Roteiro de 3 dias em Israel

roteiro de 3 dias em Israel
Sabrina em uma das suas visitas ao país. Foto: arquivo pessoal

Israel é conhecido pelo turismo religioso, mas as atrações vão muito além disso e surpreendem. Para te inspirar a incluir o destino em sua próxima viagem, convidamos a jornalista e escritora Sabrina Abreu – autora de dois livros sobre o país: “Meu Israel” (editora Leitura, 2009) e “O Último Kibutz” (editora Simonsen, lançamento previsto para o segundo semestre de 2017) – para elaborar um roteiro de 3 dias em Israel.

Sabrina morou no país durante onze meses. Ela ficou em um Kibutz, no norte, durante três meses, e depois, em Jerusalem. Desde então, a escritora já retornou dez vezes à Israel. “Eu me apaixonei por um país que tem muita história e que, ao mesmo tempo, respeita as liberdades individuais e, nesse sentido, é muito moderno. Amo o clima, quente por nove meses e com um inverno não tão rigoroso (embora haja neve, em alguns pontos, nessa estação). Também amo o quanto as pessoas são hospitaleiras, o quanto a comida é boa e o quanto há segurança e harmonia, embora os jornais privilegiem as guerras e rusgas (que, quem conhece o país sabe, são uma pequenina fração do cotidiano)”, conta.

O amor pelo país e a vontade de mostrar a realidade que não costuma aparecer nos jornais foram as inspirações para escrever o seu primeiro livro: “Meu Israel”. “O livro conta com entrevistas de diferentes personagens da sociedade israelense, como uma sobrevivente do Holocausto, um árabe muçulmano que vive no Monte das Oliveiras e a primeira rabina reformista, mulher pioneira a conquistar esse posto, em Jerusalém”, explica. Atualmente Sabrina está preparando o lançamento do seu segundo livro inspirado no país e sua primeira obra de ficção: “O Último Kibutz”

Com tanto conhecimento, não tem pessoa melhor para nos guiar pelo país, concorda? Confira abaixo o roteiro que a Sabrina preparou com exclusividade para a gente.

Roteiro de 3 dias em Israel

Israel é um país pequeno. Dá para atravessar o país, de Norte a Sul, em menos de seis horas! No entanto, sua história milenar e cultura que mescla tradição e modernidade, torna o país um destino desses para conhecer sem pressa. Ou para voltar sempre.

Meu desafio aqui foi sugerir um destino de três dias no país. Com essa restrição de tempo, eu sugeriria dois dias em Jerusalém e um em Tel Aviv. Os dois locais são uma mostra perfeita do equilíbrio que Israel faz entre o antigo e o novo. Jerusalém transpira história e religião. Não há nenhuma cidade como ela. Já TLV é chamada por israelenses de “A Bolha”, justamente porque, lá, a ordem é ignorar as tensões religiosas e políticas, para curtir a vida à beira-mar, andar de bicicleta, frequentar restaurantes sofisticados e só terminar a noite, quando a manhã chegar – muitas vezes, em bares nos quais jovens mulheres sobem espontaneamente no balcão. Turistas também são bem-vindas a fazer o mesmo.

Dia 1 – Jerusalem

Vale dedicar um dia inteiro à Cidade Velha. É lá que estão os lugares absolutamente sagrados para as três maiores religiões monoteístas. Uma ida ao Kotel, ou Muro das Lamentações, é um imperativo. O trânsito é livre durante o dia e a noite. Aliás, na madrugada, quando tudo está mais calmo e silencioso, fica ainda mais especial fazer uma oração. Sim, vale anotar os pedidos e colocar os papeizinhos numa das frestas do muro. Segundo um ditato local “em qualquer lugar pode-se fazer um DDD para Deus, mas, em Jerusalém, é uma ligação local”. Eu nunca perco a oportunidade.

Para quem ama história (e religião) também é obrigatória uma ida ao Monte do Templo ou Esplanada das Mesquitas (o primeiro jeito é como os judeus chamam o local e o segundo, o dos árabes muçulmanos). Lá, estão duas mesquitas majestosas: Al Aqsa e o Domo da Rocha, cuja cúpula dourada se tornou um símbolo da cidade. E, para finalizar, a Via Dolorosa e uma visita ao Santo Sepulcro, locais-chave do cristianismo. Ou do Catolicismo. Para protestantes, o local onde fica o sepulcro de cristo é o Gólgota, que fica do lado de fora, mas é bem pertinho da Cidade Velha, saindo pelo Portão de Damasco.

Jerusalém é cheia de detalhes e contradições entre diferentes fés. Nota-se isso nos nomes que se dá a diferentes locais históricos e também à discordância entre qual é o local histórico mais histórico – ou mais santo. Mas essa aparente confusão faz parte do charme da cidade. Para desfrutá-lo, vale a pena ler a respeito, antes de embarcar. Ou contratar um guia para receber explicações aprofundadas. (Acho que isso serve para um visitante mais caxias =)

Já uma parte da Cidade Velha não tem nenhuma polêmica: fazer compras e se perder pelos mercadinhos espalhados por suas ruelas é um programa imperdível. Prataria, cerâmica armênia, tapeçaria árabe, além de uma diversidade de roupas, objetos de decoração ou de liturgia são uma tentação. De visita em visita, minha casa já virou quase um parque temático dedicado a esses objetos.

Nesse mesmo dia (ufa!) ainda dá para aproveitar a vista da cidade, do alto do Monte das Oliveiras. O trajeto dentro da Cidade Velha e até o Gólgota pode (e deve!) ser feito a pé. Já para chegar até o Monte das Oliveiras, o melhor é ir de carro. Quem tiver contratado um guia já conta com essa facilidade. Mas, se não for o caso, vá de taxi, partindo do Portão de Damascos. Só não se esqueça de combinar o preço antes. É lá do alto que se tem a visão mais privilegiada de Jerusalém, aquela dos cartões-postais, na qual se vê os montes, vales, muralhas e do Domo da Rocha, com seu brilho inconfundível.

Ao longo de todo o ano, há programações culturais (com show de luzes ou de música, por exemplo) dentro da Cidadela de Davi, uma edificação que fica logo na entrada do Portão de Jafa. Se, depois de tanto andar ao longo do dia, ainda sobrar ânimo para esse passeio, vale a pena.

Dia 2 – Jerusalém

Apesar de ser famosa pela tradição, Jerusalém também tem, sim, sua faceta mais moderna. Para explorá-la, nada como começar por um passeio pela Rua Ben Yehuda, animado centro de compras, que ganha ainda mais vida nas quintas à noite, véspera do Shabat (ao por-do-sol da sexta-feira, quase tudo costuma fechar na cidade, por causa do dia santo para os judeus. Assim, a quinta é um dia animado, que prenuncia o fim de semana). Por lá, dá para fazer o desjejum em um dos vários cafés espalhados pela Ben Yehuda e suas ruas transverssais.

De lá, pegue o metrô em direção ao Museu do Holocausto. O assunto é terrivelmente triste, mas visitar esse, que é o maior centro de pesquisa e o maior acervo sobre os judeus vítimas do nazismo, é uma experiência não apenas válida, mas também transformadora. O ideal é dedicar ao menos quatro horas para visitar o espaço. Na área interna, exposição de documentos, objetos pessoais e depoimentos de sobreviventes ajudam a contar a história, desde o antissemitismo histórico da Idade Média na Europa, até o contexto da ascensão de Hitler, nos anos 1930 e todo o desenrolar da Segunda Guerra Mundial, com o resultado de mais de 6 milhões de judeus mortos (além de outras vítimas do nazismo, como gays, homossexuais, políticos contrários ao regime, que também são relembrados na exposição fixa). Na parte externa, o bosque onde está árvores dedicadas os “justos entre as nações”, aqueles não-judeus que se dedicaram a salvar a vida de judeus durante a guerra (correndo risco de ser punido com prisões e torturas) é um convite à reflexão e um recado esperançoso depois de ver tantas lembranças de um genocídio terrível.

Para espairecer, depois do museu, boa ideia é ir ao Mahane Yehuda, mercado de comida, com hortifruti, carnes e peixes, além de cafés e restaurantes. Nesse mesmo dia, faça uma parada no Mamila, um complexo sofisticado que inclui galeria de lojas, restaurantes e um hotel cinco estrelas. Lá do alto, a vista da Cidade Velha é imperdível. Reserve uma mesa num dos bares ou restaurantes a tempo do por-do-sol.

Dia 3 – Tel Aviv

Apenas a uma horinha de Jerusalém, Tel Aviv é o oposto de sua vizinha mais antiga. Apelidada de “A Bolha” pelos israelenses, o que seus nativos, moradores ou visitantes querem (e conseguem) é curtir a vida sem nem se lembrar de que estão no Oriente Médio. Tel Aviv é cosmopolita, gay friendly, cheia de bandeiras do arco-íris hasteadas pelos prédios, ao mesmo tempo em que há espaço para mesquitas e sinagogas. Por lá, há um modo especial de pessoas diferentes conviverem sem se meterem umas nas vidas dos outros. É um lugar com muita liberdade, com vida noturna para todos os gostos (e nem todos os bolsos, já que é uma cidade cara), com praias nas quais pode-se usar biquininho brasileiro, sem problemas e opções culturais as mais diversas. Para aproveitar tudo isso num dia só, só mesmo abrindo mão do sono. Mas vai valer a pena.

O Mar Mediterrâneo e as praias de areias brancas fofinhas merecem receber sua visita logo cedo. O almoço pode ser num dos restaurantes do Novo Porto de Tel Aviv ou da antiga Estação de Trem. Depois, uma ida ao Museu de Arte de Tel Aviv, que tem acervo permanente com grandes mestres da história da arte, como Chagal e Picasso, além de exibições temporárias sempre muito interessantes e capazes de dar um gostinho da produção artística israelense. O fim de tarde pode ser curtido em Yaffo. E, aqui, vale uma explicação: apesar de ser moderníssima, Tel Aviv também tem sua parte histórica (não poderia ser diferente em Israel!). Yaffo ou Jafa era uma cidade antiga, por onde já andou Napoleão Bonaparte, e que se juntou à maior metrópole israelense, que, aliás, oficialmente se chama Tel Aviv-Yaffo. Por lá comida e bebida de primeira se misturam à arquitetura histórica e ao charme do mercado de pulgas, sempre com algum ótimo achado à espera de quem tem paciência de garimpar. Se jantar por lá, não deixe de tomar um drink no Rothschild Boulevard. Epicentro do que há de melhor na noite da cidade, a larga avenida é ideal para fazer à moda dos jovens locais: tome uma rodada de drink num bar, depois outra rodada noutro, depois em outro e em outro, e em outro. A ideia é pular de um bar para outro, entre mais sofisticados e moderninhos, até o dia clarear.

Com um roteiro tão inspirador desses, dá vontade de arrumar as malas e já embarcar amanhã, não é mesmo? Clique aqui para conferir mais roteiros para programar a sua próxima viagem.

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