Intercambista conta sobre as diferenças entre casa de família e boarding school

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O intercambista estudou em Victoria, British Columbia, Canadá.

O psicólogo Rodrigo Goes e Lima, 24 anos fez um intercâmbio de dois anos em Victoria, British Columbia, Canadá. Ele saiu do Brasil em 2009 para fazer high school em terras canadenses. Durante o primeiro ano ele ficou em casa de família. E no segundo ano, foi para uma boarding school, a Saint Michaels University School. Rodrigo nos contou como foi a sua experiência e, na visão dele, quais são as principais diferenças entre casa de família e boarding school.

Rodrigo decidiu fazer intercâmbio pois tinha vontade de experimentar morar e estudar no exterior e ver como iria se virar por lá. “Acredito que o propósito maior foi de me arriscar um pouco, descobrir e experimentar como seria começar laços em um outro lugar, de uma forma mais independente. Acho que queria ver como me saía em outra cultura, sem muito do amparo que sempre tive em casa, entre minha família e amigos. Adorava jogar Squash, também, e minha escolha pela cidade e países especialmente giraram em torno disso”, conta.

Confira a nossa entrevista com o estudante.

Principais diferenças entre casa de família e boarding school

Como foi a sua experiência em casa de família e boarding school e, na sua opinião, quais são as principais diferenças entre elas?

 Durante o primeiro ano tive a oportunidade de ficar na casa de uma família, em que minha “host-mother” era americana, meu “host-father” canadense, e eles tinham uma filha de 3 anos, na época. Além de me terem como intercambista por um ano, eles também receberam, ao mesmo tempo, dois intercambistas do México, cada um em um semestre. A escolha da família se deu em função do desejo que eu tinha de viver de forma mais autêntica o possível a dinâmica e a cultura local. Isso fez com que eu pudesse, por exemplo, ter que me deslocar na cidade para ir à escola, viver o cotidiano tradicional de uma família, e formar um laço mais próximo e aconchegante com o estilo de vida e com as pessoas canadenses. Foi uma experiência excelente para viver e aproveitar a cidade, conhecer o estilo de vida típico dos moradores, celebrar datas comemorativas tradicionais em família, e fazer parte de uma dinâmica social e familiar que culturalmente é muito rica no que diz respeito aos hábitos, aos costumes, e às formas de interação e de convivência.

No segundo ano morei em uma residência estudantil, dentro da escola, que contava com aproximadamente 240 alunos, distribuídos em 6 casas diferentes, sendo 3 de meninos, e 3 de meninas. Eu dividia meu quarto com um colega canadense, e dentre os outros “boarders” tive amigos e colegas das mais diferentes nacionalidades, além dos próprios alunos canadenses da escola que moravam na própria cidade com suas respectivas famílias, e que, portanto, frequentavam a escola durante o horário letivo, mas não residiam nela. Tive a oportunidade de estudar em Saint Michaels por conta de uma bolsa de estudos em virtude da prática de Squash. A escola oferecia uma série de esportes com equipes de alto rendimento e com uma ótima estrutura, além de ter uma reputação também excelente em termos acadêmicos, com o objetivo de preparar os alunos para universidades em todo o mundo. Esse tipo de hospedagem me proporcionou a oportunidade de habitar, conviver, comer, estudar e me divertir em um ambiente com pessoas do mundo inteiro, usufruindo de uma estrutura física maravilhosa que a escola tinha, e uma equipe de profissionais e educadores de alto nível, que fizeram toda a diferença em minha experiência de intercâmbio.

As diferenças entre uma boarding school e uma casa de família vão muito além da questão da hospedagem e do lugar de residência, uma vez que o foco e o objetivo das duas experiências diferem bastante. Se por um lado tende a haver um investimento acadêmico maior e uma preparação educacional em um amplo sentido muito mais aplicada em uma boarding school, o intercâmbio em uma casa de família garante uma imersão cultural no país de escolha mais profunda.

Acredito que quando se trata de intercâmbio, no entanto, é importante dizer que além das diferenças mais estruturais entre uma experiência e outra, sempre pesa muito a atitude e a proatividade do/a intercambista em fazer valer sua experiência da forma como sonhou. A diferença das experiências varia principalmente de acordo com a forma como se aborda e se acolhe as oportunidades nas duas opções. Há também uma variação grande entre as famílias que se dispõem a recepcionar intercambistas, e consequentemente, entre as formas como se dão as relações entre as duas partes, o que torna um pouco difícil a tarefa de generalizar as diferenças entre as experiências. De forma geral, entretanto, acredito que algumas das principais diferenças entre a hospedagem em uma casa de família e em uma boarding school são relacionadas às oportunidades oferecidas em cada uma delas, à exposição à cultura, e à interação com a cidade.

Com relação às oportunidades oferecidas, acredito que há em uma boarding school um leque mais bem estruturado de atividades inter e extracurriculares oferecidas aos alunos que podem ser também de alguma maneira encontradas em escolas públicas ou por incentivo de uma família, mas que decididamente é mais amplo em boarding. Seja com relação aos esportes, à participação em clubes (de dança, música, acadêmicos, etc), ou mesmo com relação à simples interação com os colegas que também residem na escola, a hospedagem em uma boarding school oferece toda uma estrutura de atividades e de oportunidades das mais diversas, importantes não só no que diz respeito ao lazer, mas também em termos acadêmicos e de investimento pessoal para o futuro.

O simples fato de conviver com os colegas após o horário escolar já permite uma oportunidade de “enturmação” e de relacionamento que é extremamente importante na experiência de intercâmbio e que por vezes acaba sendo mais complicada quando se vive em uma casa de família.

Sobre a exposição à cultura local, acredito que é importante mencionar que devido ao ambiente multicultural de uma boarding school, e por se tratar de um espaço escolar, acima de tudo, o contato mais próximo com elementos da cultura do país que seriam vivenciados em uma residência e no interior de uma família se perdem um pouco. O ambiente e a comunidade que se constituem em torno de uma boarding school tendem a ser um pouco mais insulados da cultura local, de forma que se vive a cultura da escola e de sua comunidade institucional, e talvez nem tanto a da cidade, ou mesmo a do país. Morar em uma casa de família permite uma imersão maior na vida cotidiana local e por consequência, talvez uma vivência mais profunda da cultura e dos costumes.

No que diz respeito à interação na cidade, soma-se um pouco dos aspectos levantados nas duas diferenças pontuadas anteriormente. Morar em uma casa de família exige que haja ao menos um deslocamento na cidade para ir à escola, por exemplo, que envolve o/a intercambista na dinâmica local, no sistema de transporte, na interação com os residentes e moradores locais, e na descoberta e exploração do espaço onde vive. Apesar de haver oportunidades de se sair da escola, especialmente quando se está engajado em atividades externas ao ambiente escolar, há um limite maior da liberdade do/a intercambista em uma boarding school, que pode restringir um pouco a experiência com a cidade onde se mora.

Quais são as vantagens e desvantagens de boarding school e de casa de família?

Acredito que as vantagens e desvantagens dependem muito do foco e das pretensões da viagem de intercâmbio. Mas acho que entre as vantagens da experiência de “boarding” está sem dúvidas a convivência constante com amigos e colegas, que cria um vínculo de amizade muito forte não só com os alunos, mas também com toda a comunidade da escola. Além disso, conta-se com uma exposição direcionada a uma série de atividades e oportunidades dentro e fora da escola que são um verdadeiro privilégio.

Se por um lado pode-se perder um pouco da liberdade que uma casa de família pode oferecer (a depender é claro do rigor da família), por outro, a ampla oferta de atividades bem orientadas por parte da boarding school pode na verdade garantir uma exploração mais rica e proveitosa das oportunidades dispostas na cidade. Além disso, há uma preparação acadêmica, pessoal e educacional no todo, com professores e alunos de excelência, que é uma enorme vantagem das boarding schools, com toda uma expectativa e um investimento em relação ao aluno(a) que são muito enriquecedores. O grau de exigência da escola, a convivência direta com colegas e em geral o número menor de brasileiros é um excelente estímulo para o melhor desenvolvimento da proficiência na língua estrangeira, também. Uma desvantagem, como falei antes, estaria no aspecto do envolvimento com a cultura local, que não seria tão desenvolvido quanto em uma família nativa poderia ser.

Quanto à casa de família, acho que a maior vantagem está na profundidade da experiência cultural, que consiste em poder de fato viver o cotidiano tradicional do país escolhido de uma forma mais próxima da realidade dos habitantes. Uma desvantagem da casa de família em relação ao boarding consta, em minha opinião, nesta falta de um direcionamento para uma formação pessoal/acadêmica mais bem orientada, mesmo que essa não deixe de ser uma experiência subjetiva de independência e de descoberta também bastante rica.

Quais critérios considerou para escolher os locais onde foi fazer intercâmbio?

Considerei como principais critérios para escolha do meu destino de intercâmbio o clima (que não fosse muito frio!), o tamanho da população (pretendia que não fosse uma cidade muito grande, mas que pudesse também oferecer um número de oportunidades, eventos e atrativos interessantes para lazer, por exemplo), a oferta de um lugar onde eu poderia praticar squash, esporte que eu adorava, e que via como uma boa oportunidade de construir relacionamentos, o acolhimento e hospitalidade da população, e a beleza natural, organização e segurança da cidade e do país.

Conseguiu viajar para outros lugares durante o intercâmbio? Se sim, para onde foi?

Sim! Tive a oportunidade de ir a Whistler (Canada), Tofino (Canada), Vancouver (Canada), Edmonton (Canada), Calgary (Canada), Toronto (Canada), Niagara Falls (Canada), Boston (EUA), e New Haven (EUA). A grande maioria dessas viagens se deu pelo envolvimento no meu caso com o Squash (ou com qualquer outro esporte) para participar de campeonatos. Recomendo muito a participação em uma atividade que lhe permita, durante o intercâmbio, fazer novas amizades e viajar com um propósito específico, a partir de um tema, objetivo ou motivação.

Quais foram os seus passeios preferidos durante o intercâmbio e porque?

Aproveitei muito meus passeios paras os destinos em que iria participar de campeonatos, quando podia não só praticar um esporte que me dava prazer, como também conhecer novas pessoas em diversos lugares do Canadá, e passar tempo com meus amigos que viajaram comigo, em equipe. Era sempre muito divertido viajar com uma turma de pessoas de culturas tão diferentes, mas com interesses e idades em comum. Também adorava os passeios com minha host-family, quando realmente me sentia parte do cotidiano da vida familiar deles, seja passeando na praia com minha “host-sister”, jogando golf com meu “host-father” ou mesmo indo ao supermercado! Junto aos outros intercambistas, especialmente no primeiro ano em que estive em Victoria, gostava de nos perdermos um pouco na cidade procurando ou inventando alguma festa, um restaurante, ou qualquer distração nos fins de semana, explorando cada canto da cidade (às vezes sem muito saber como voltar para casa!)

O que foi o melhor de fazer intercâmbio?

Para além da imensa abertura de perspectivas em vários sentidos (acadêmico, pessoal, profissional, cultural…), e da descoberta de novos lugares e pessoas que marcaram em muito minha vida para sempre, acho que o melhor foi a oportunidade de construir uma experiência extremamente autêntica, em que pude explorar meus interesses de forma livre, e experimentar. O intercâmbio teve um efeito muito importante também em minha autoconfiança, ao descobrir que eu podia lidar bem com situações muito diferentes das que eu estava acostumado, totalmente fora da minha zona de conforto (mesmo que existam várias formas de não sair dela durante uma experiência de intercâmbio!). Particularmente meu ano em uma boarding school foi essencial na orientação da minha escolha profissional, na definição de alguns planos e desejos para o futuro, e na preparação para eles. A convivência com outros(as) estudantes e professores extremamente comprometidos e dedicados foi uma experiência transformadora para mim.

O que achou mais difícil ao fazer intercâmbio?

Acredito que o mais difícil foi reconhecer e agarrar as oportunidades que me permitiriam aproveitar meu intercâmbio da melhor forma possível. Seja com relação às amizades, à forma como aproveitaria meu tempo, ou às atividades para as quais decidi me dedicar. Um intercâmbio na adolescência, ou em qualquer outro momento da vida, é um momento de escolhas e de algumas definições, assim como de investimento pessoal. Decidir por um intercâmbio é estar disposto a ficar imerso em um novo contexto que merece uma nova forma de exploração das oportunidades e das vivências que estamos acostumados. Descobri o quanto é fácil encontrar o que estamos habituados em qualquer lugar do mundo, e acho que o mais difícil foi descobrir formas de viver uma experiência que eu não teria a oportunidade nem o momento de viver em outra etapa da minha vida, mesmo com o medo de não dar certo de início. Arriscar amizades mais improváveis ou insistir nelas foi uma delas.

Fazer intercâmbio foi a melhor coisa da sua vida? Por que?

Sem a menor dúvida. Não tenho como descrever o que significou a experiência de intercâmbio em minha adolescência na construção da minha vida, e na definição de minhas escolhas, em todos os âmbitos da minha vida, seja na relação com meus pais, amigos, colegas de profissão, relacionamentos amorosos, assim como nas atividades e nos papeis que me propus a desenvolver e desempenhar após o retorno ao Brasil. Quando bem orientado, acredito que uma experiência deste tipo marca uma vida para sempre, seja nas lembranças e amizades que trazemos conosco, seja na oportunidade de, especialmente quando ainda na adolescência (como foi meu caso), poder inventar uma solução (e, muitas vezes, errar), em um contexto totalmente diferente do que fomos criados. Fazer intercâmbio foi poder escolher, pelo menos por um tempo, muitas coisas que em minha vida já estavam um pouco sedimentadas, mesmo que ainda muito cedo, e poder aprender e experimentar com essas escolhas não tem preço. Com todas as muitas alegrias que tive depois, considero ainda o período mais feliz da minha vida!

O que diria para aquelas pessoas que sonham em fazer um intercâmbio?

Sonhe tudo que puder antes de ir, e de forma alguma esqueça de sonhar enquanto estiver lá! O intercâmbio é uma janela ainda mais especial da vida da gente em que literalmente qualquer coisa é possível acontecer, de encontrar um amor improvável, a definir uma profissão, ou descobrir algo extremamente novo que nos faz bem e não sabíamos. E só é possível fazer isso quando desapegamos um pouquinho do que temos tão garantido em casa, e que muitas vezes é a primeira coisa que buscamos lá fora.

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